Bom dia!
Vocês continuam me perdoando pelas ausências? Espero que sim. Vivo de escolha em escolha, suportando as consequências, e tudo bem.
Volto com um tema espinhoso, que rendeu muita conversa nas últimas semanas: a reação de um escritor de sucesso a uma crítica.
Tem também um resumo do conteúdo mais interessante que li sobre Inteligência Artificial nos últimos tempos.
Para fechar, música e flores!
Espero que gostem. Boa leitura, e até a próxima.
PS: Tem algum comentário? Basta responder a esse e-mail.
Quem escreveu Torto Arado não pode ser criticado?
O que a acusação desmedida de Itamar Vieira Júnior a uma professora que ousou criticá-lo diz sobre o autor mais festejado da literatura brasileira atual?
Itamar Vieira Júnior tem muito do que se orgulhar: logo no primeiro romance, virou um fenômeno. “Torto Arado” ganhou os prêmios LeYa e Jabuti, e já vendeu, em 3 anos e meio, 700 mil exemplares (250 mil para o governo). Virou música pop e peça de teatro. Foi traduzido em 24 línguas. No perfil @tortoaraders, fãs exibem tatuagens com a ilustração da capa do livro. Não há nada parecido na literatura brasileira recente.
Foi nesse contexto estrelado que Itamar lançou, em 2023, “Salvar o Fogo”, seu segundo romance. Numa operação de marketing muito bem executada pela editora Todavia, vendeu 37,5 mil exemplares só na pré-venda em livrarias, mais que muito autor consagrado sonha em vender de um livro, pré ou pós. Como um popstar (que é), Itamar lotou auditórios e livrarias no “book tour” de lançamento.
E o livro, para surpresa de ninguém, já está na lista dos mais vendidos do país em ficção (junto com o antecessor, diga-se).
Não há dúvidas, portanto, dos méritos de Itamar Vieira Júnior, um funcionário público do Incra que transformou suas vivências no campo em literatura. Eu mesmo disse que “Torto Arado” é um “monumento”. O livro é bom, e faz um enorme serviço ao atrair novos leitores e colocar em destaque temas como desigualdade e racismo.

Nada disso o torna imune a críticas, claro. Mas Ligia Gonçalves Diniz sabia onde estava pisando quando resolveu apontar, em resenha na revista 451, as fragilidades que enxergou em “Salvar o fogo”. “Qualquer coisa que uma resenha possa dizer sobre a obra será, na melhor das hipóteses, irrelevante; na pior, a resenhista se meterá numa enrascada.” E assim foi.
Ligia é doutora em Literatura pela UnB, e dá aula na UFMG. Seu longo texto fala dos acertos da obra, mas aponta como problema do romance “a abordagem maniqueísta das relações sociais e raciais, que parte do princípio, implicitamente acordado com o leitor, de que, nessas páginas, por uma questão de justiça histórica, os negros e indígenas estarão do lado certo e a elite branca estará do lado não apenas errado, mas diabólico”.
Ligia faz questão de ressalvar: “Não se trata aqui de duvidar dos referentes sócio-históricos que fundamentam essa polarização — eles são muito concretos —, e sim de questionar a forma ficcional dada a esses elementos.” Ela conclui com a hipótese de que “a literatura de Itamar Vieira Junior encarne (…) o espírito do tempo”, que aponta “o triunfo da narrativa didática e moralizante”. “É preciso refletir acerca das razões para que esse tipo de literatura obtenha tanto espaço institucional — dos prêmios à atenção recebida pela mídia, o que inclui esta longa resenha.”
Pois é. Seu texto está justamente numa edição que estampa uma foto de Itamar na capa, e inclui 7 páginas (a crítica ocupou apenas duas) de uma bela reportagem que acompanha o autor numa visita ao cenário de “Salvar o fogo”. O departamento de comunicação da editora deve ter comemorado.
Mas não Itamar. Ele viu “racismo” nas críticas de Ligia, e usou sua coluna na Folha para atacá-la. Comparando-se a Vini Jr., denunciou que “o editor branco escolhe a crítica branca para resenhar um romance atravessado pela raça e pelo colorismo”. “A violência racial não nos dá um dia de trégua”, conclui. O mesmo editor que o colocou na capa da revista e dedicou um podcast à obra.
O infeliz libelo de Itamar também desrespeitou uma máxima da comunicação: não amplifique uma crítica com a sua resposta. Com o artigo, os comentários de Lígia saltaram de uma revista de nicho para um dos maiores jornais do país. E foi em outro grande jornal, O Globo, que eu tomei conhecimento do assunto, na elegante tréplica do angolano José Eduardo Agualusa, “Carta a um escritor que aprecio”.
“Deveríamos repudiar com horror os elogios, e agradecer, com sincera alegria, as críticas negativas — incluindo as idiotas. A resenha da Lígia G. Diniz, contudo, não tem nada de idiota. Acho-a informada, inteligente, honesta e rigorosa — o que não significa que concorde com ela.”
E arremata: “O combate antirracista, e o combate contra a extrema direita em geral, sai prejudicado sempre que alguém na tua posição — relembro: uma posição de grande poder e privilégio — lança acusações deste gênero, absurdas e levianas, para responder a uma opinião discordante.”
A crítica ao “espírito do tempo” a que Ligia se refere pode ser resumida na poderosa frase do romancista Bernardo Carvalho, em entrevista sobre livro em que “ousou”, mesmo sendo branco, abordar o racismo: “Literatura é lugar de risco, não de fala”.
As melhores aplicações do ChatGPT em Comunicação e Marketing
Finalmente, adotei: o ChatGPT agora fica aberto permanentemente na minha tela (transformei em app — tutorial aqui). E assinei a versão “plus” para ter acesso a plugins. Isso depois de conhecer nessa ótima palestra vários novos usos para a ferramenta especificamente para quem trabalha com comunicação e marketing.
Abaixo alguns exemplos, pelas categorias que Christopher Penn usa para dividir seu “catálogo de usos”:
1. Geração
O uso mais conhecido, a produção de textos. Mas o segredo, claro, está no pedido. Vejam o exemplo que ele dá:
Você vai agir como um blogueiro. Você tem experiência em blogs, criação de conteúdo, conteúdo de forma longa, marketing de conteúdo e conteúdo para SEO. Você tem experiência no assunto em estatística, ciência de dados, aprendizado de máquina e aprendizado supervisionado.
Sua primeira tarefa é elaborar um esboço de quatro partes para a seguinte pergunta:
Como você constrói um algoritmo de análise preditiva?
Sacou? Bem específico. Em todos os casos, ele formata o pedido desta forma.
2. Extração
Três exemplos:
- Lista de palavras chave para uso em estratégias de SEO a partir de um texto base.
- Bullets a partir das anotações de uma reunião.
- Extrair informações padronizadas de vários links, organizando numa tabela.
3. Sumarização: esse é fácil, mas ele leva a outro nível. Só vendo a palestra pra entender.
4. Reescrita:
Esse também já estamos usando, mas Christopher traz exemplos maravilhosos:
- Reescrever um NDA ou contrato a partir de novas variáveis
- Explique “tal tema bem complexo” em termos de pizza.
- E o meu preferido: desopile o fígado escrevendo uma mensagem malcriada e ofensiva, depois peça para o ChatGPT reescrever de uma maneira profissional. Horas de terapia economizadas.
Christopher Penn é um especialista em inteligência artificial e marketing muito antes do hype. Acompanho de perto o que ele fala pela newsletter, vale a pena assinar.
Ler para os mais velhos
Todo pai lê (ou deveria ler) livros para seus filhos pequenos. Mas quando eles adquirem autonomia de leitura e ganham o acompanhamento da escola, é possível que os pais já não se sintam tão responsáveis ou achem que não devem ler para crianças alfabetizadas pelo risco de não estimular a leitura autônoma.
Bobagem, como mostra esse texto no Blog da Letrinhas. Não se deve parar de ler para os mais velhos “em primeiro lugar, por puro egoísmo: como perder esse momento cotidiano tão fantástico com seus filhos, quando pode deixar para trás os conflitos do dia para focar no que é importante de verdade, que é compartilhar histórias, risadas, aventuras e medos, quer dizer, tudo aquilo que cria vínculo entre nós?”, comenta uma escritora espanhola.

Não é? Tive uma experiência recente: numa noite de insônia compartilhada, resgatei uma memória de infância e li para Helena “O Hobbit”, o percursor da série “O Senhor dos Anéis”. Ninguém voltou a dormir, mas a mágica aconteceu: ela foi fisgada e continuou a leitura sozinha. Para estimular (e porque é uma história muito bem contada), resgatei minha edição e li junto. Foi uma delícia. A cada nova aventura de Bilbo, comentávamos surpresas e curiosidades. E já estamos emendando no primeiro volume de “O Senhor dos Anéis”.
Leitura compartilhada, em voz alta ou não, é para qualquer idade.
Com licença, Chico. Vamos ouvir a Mônica
Terminou a histórica turnê de Chico Buarque com Monica Salmaso. No Brasil, foram 158,6 mil espectadores (“dois maracanãs lotados”, como disse Ancelmo Gois), seguida de um giro em Portugal. Quem foi atrás de Chico, descobriu uma joia.
Ela está há mais de 30 anos na estrada. Já era reconhecida e premiada quando comecei a ouvir. Mas arrisco dizer que foi ao lado de Chico que Monica Salmaso ganhou o merecido reconhecimento de um público mais amplo.
Para quem não explorou, sugiro começar justamente pelo disco “Noites de gala, samba na rua”, de 2007, só com regravações de músicas do Chico. É um acontecimento. E depois deixa o Spotify te levar. Para ver na melhor TV da casa, o canal da Monica no YouTube tem muita coisa boa.
Quer mais? Aqui tem a agenda de shows dela no segundo semestre. Vamos?
A florada do planalto
Começou a época mais linda de Brasília: a florada dos ipês. “Primeiro vem o roxo, logo em julho os amarelos, em agosto os rosas e finalmente, os brancos fecham a temporada em setembro. Depois disso, deixam saudade: só voltam no próximo ano”, resume o Correio Braziliense.
Para quem não tiver o privilégio de visitar a capital nesse período, a tag #iperoxo no Instagram é uma festa.
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