Bom dia!
De volta após escolhas diversas para meu escasso tempo livre nas últimas semanas…
Hoje falo de um tema que continua a martelar meu cérebro, sem previsão de parar.
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Espero que gostem. Boa leitura, e até a próxima.
— Juliano
Caso tenha perdido:
O estagiário universal
Era mais uma ação movida por um passageiro contra a companhia aérea Avianca. Ele queria uma indenização por ter sido atingido no joelho pelo carrinho do serviço de bordo. Os advogados da empresa faziam seu rotineiro trabalho de checar a origem da jurisprudência mencionada pela defesa do cliente enfurecido, quando perceberam algo estranho: não achavam nenhum dos precedentes citados, em tribunal nenhum do mundo. Resolveram questionar o juiz, que questionou os advogados do passageiro. A resposta surpreendeu a todos:
“Foi em consulta com o site de inteligência artificial generativa Chat GPT que o declarante localizou e citou os casos na contestação apresentada, e que este Tribunal determinou serem inexistentes.”
E mais:
“O declarante se baseou nos pareceres legais fornecidos a ele por uma fonte que se revelou não confiável. O declarante nunca havia utilizado o Chat GPT como fonte para realizar pesquisas legais antes dessa ocorrência e, portanto, desconhecia a possibilidade de que seu conteúdo pudesse ser falso. (…) O declarante se arrepende muito de ter utilizado a inteligência artificial generativa para complementar a pesquisa jurídica realizada aqui e nunca o fará no futuro sem a verificação absoluta de sua autenticidade.” (íntegra)
Pois é. O advogado Steven Schwartz aprendeu da pior forma o que todos já deveríamos saber: o ChatGPT (em sua versão atual, ao menos) não passa de um “estagiário universal”, na expressão criada por Kevin Kelly, fundador da revista Wired e desde sempre uma das vozes mais interessantes sobre tecnologia.
Um ótimo estagiário, aliás. Experimente trabalhar com a tela do chat sempre aberta, e vá solicitando pequenas tarefas: pesquise isso, encontre uma referência para aquilo, resuma esse texto, transforme essas mensagens num press release, sugira 10 títulos para essa matéria… O melhor virá nas interações seguintes: resuma mais, diga de outra forma, agora acrescente esse outro ponto, suprima aquele trecho, escreva isso em tom formal, agora em inglês etc. etc.
É um baita adianto. No mínimo, um excelente ponto de partida. Mas nunca um texto pronto. “Você tem que checar o trabalho dele. É vergonhoso disparar o trabalho do estagiário sem melhorá-lo”, resume Kelly nessa ótima entrevista. Como faríamos com qualquer estagiário de carne e osso, claro.
O curioso é que estamos falando, certamente, de uma forma muito rudimentar de inteligência artificial, que em 30 anos nem merecerá esse nome, prevê Kelly. Ele insiste, aliás, que devemos falar em “inteligências artificiais”, porque não há uma única tecnologia monolítica. No futuro, diz ele, elas serão especializadas, umas melhores nisso, outras naquilo. E serão, propositadamente, “emburrecidas” em vários aspectos. “Você quer que seu carro dirija, você não quer que ele se preocupe se deve fazer faculdade de economia. Você quer que ele foque na estrada.”
Há, claro, muitos motivos para preocupação com a evolução dessa tecnologia, e por isso é preciso alguma regulação. E Kelly volta à metáfora automobilística: quando se desenha um carro, é claro que precisamos pensar nos freios, mas o foco do desenvolvimento deve estar no motor.
Kelly é um defensor tão convicto do otimismo que ele tem até um TED Talk sobre “como os otimistas vão definir o futuro”:
“O otimismo não é uma espécie de cegueira às realidades dos problemas do mundo ou algum tipo de auto-ilusão poliana. Na verdade, o otimismo é baseado na realidade do progresso histórico, de que se olharmos para os dados de maneira científica e racional, as evidências dizem que, em média, em escala global, ao longo do tempo, nos últimos 500 anos, houve melhorias incrementais.” Mas essas melhorias acontecem muito mais devagar do que as tragédias que alimentam o noticiário, que por sua vez alimentam a nossa percepção geral de que o mundo está piorando (falei disso em 2018).
Essa é uma discussão longa e que pretendo retomar, assim como outros pontos fascinantes que Kelly levanta sobre inteligência artificial.
Pare de usar o ChatGPT antigo
A Microsoft, uma das maiores investidoras do ChatGPT, integrou a tecnologia ao seu buscador, o Bing. Qualquer um pode usar, basta entrar em bing.com/chat (ou baixar o app do Bing para celular). Além de usar uma versão mais nova do sistema, as respostas do Bing incluem links e referências.
- Quer mais sobre IA? Essa reportagem do New York Times junta depoimentos em áudio de alguns maiores especialistas no tema com imagens geradas por inteligência artificial a partir de suas falas. Coisa fina.
- E você, como tem usado essa tecnologia? Me conta.
O TikTok não é uma rede social?
Num evento essa semana em São Paulo, Gabriela Comazetto, executiva da… plataforma para América Latina, falou claramente: “o TikTok não é uma rede social, é uma plataforma de entretenimento movida pela comunidade”.
Será que é só narrativa, palavra que todo mundo (re)descobriu essa semana?
Se pensarmos nas plataforma que deram origem ao termo — Twitter e Facebook, e depois o Instagram —, faz sentido. Nelas, a lógica original estava em torno das suas conexões, daí “rede social”. Elas se tornaram populares a partir do feed em que o usuário podia acompanhar publicações das pessoas que seguia.
O TikTok veio para subverter essa lógica: ao abrir o app, você primeiro indica seus interesses e já começa a assistir vídeos. Se não quiser, não precisa seguir ninguém. A experiência logo foi copiada por outras plataformas.
A discussão fica mais interessante quando vemos que, em sua versão mais atual, o projeto da Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet (mais conhecido como PL das Fake News) se aplica a provedores de “redes sociais; ferramentas de busca e mensageria instantânea”. E aí, o TikTok é rede social?
Hay tanto que quiero contarte…

Um dos motivos da minha ausência desse espaço foi a oportunidade, de última hora, de ir ao show que a mexicana Julieta Venegas fez em São Paulo há duas semanas.
Falei dela aqui em 2019. No ano passado, Julieta lançou o ótimo “Tu Historia”, motivo da turnê que a trouxe ao Brasil. Coloquei nessa playlist todas as canções do show, uma melhor que a outra. Me voy!
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