Bom dia!
No texto de hoje, compartilho o que aprendi ao mergulhar num assunto que acompanho muito pouco: a septuagenária telenovela brasileira. Fiquei fascinado ao descobrir, tardiamente, as estratégias da Globo para levar o gênero a sua plataforma de streaming.
Espero que gostem. Boa leitura, e até a próxima edição.
— Juliano
Novela no streaming: um novo capítulo
Estreia na próxima semana a segunda parte de “Todas as Flores”, a novela que a Globo está exibindo apenas no Globoplay. Confesso que nunca tinha ouvido falar da trama até Manuel Belmar, executivo da Globo, citá-la como uma das responsáveis pelo aumento de 27% nos usuários da plataforma de streaming do grupo em 2022. Prevista inicialmente para a TV aberta, acabou se tornando um exemplo de como transpor, finalmente, a teledramaturgia brasileira para o streaming.

Primeiro, vamos falar do que não muda: “Todas as flores” foi escrita por João Emanuel Carneiro, o autor do mega sucesso “Avenida Brasil”. Tem a vilã, tem a mocinha, tem o rico, tem o pobre, tem o grupo empresarial carioca. Tem o melodrama, muito melodrama. É um novelão com tudo o que tem direito.
E o que muda? Para começar, o número de capítulos. “Avenida Brasil” foi exibida em 179 capítulos (ufa). “Todas as flores” terá 85. João Emanuel diz que “matou” nada menos que oito personagens para adaptar o roteiro. E o conteúdo também muda:
“Eu não poderia pesar tanto, não teria essa coisa erótica tão forte, não teria uma história tão costurada só na trama central, teria que abrir para outros personagens, outras situações, fazer um painel mais amplo, para agradar mais gente”, disse o autor em entrevista a Cristina Padiglione, na Folha.
Tendo sido quase toda gravada antes de ir ao ar, a obra também fica bem menos sujeita a pressões da audiência, como acontece com as novelas na TV aberta.
Mas a grande diferença está na distribuição. Entre o formato tradicional da TV — um capítulo por dia, de segunda a sábado — e o modelo consagrado por plataformas como Netflix, em que todos os episódios de uma temporada ficam disponíveis de uma vez, a Globo escolheu colocar no Globoplay cinco capítulos por semana — e o autor refletiu isso na cadência do enredo, criando situações de suspense ao final de cada lote. É um meio-termo, que permite “maratonar”, mas mantém o espectador na expectativa pelos próximos capítulos.
E para prender ainda mais o assinante, a novela foi interrompida ao final dos primeiros 40 capítulos, abrindo espaço para outro produto âncora do Globoplay, o Big Brother Brasil. Pelo crescimento do número de assinantes, parece que a estratégia está dando certo.
A telenovela brasileira é um fenômeno da cultura de massas, exportado para o mundo todo. Com 70 anos completados em 2021, passa agora por uma transformação relevante na transição da TV aberta para o streaming. É um movimento para ser observado como parte dos novos hábitos de consumo de mídia do brasileiro.
A biblioteca e o clima
Contei aqui a história de como uma biblioteca escolar apresentou a literatura para o premiado escritor Luis Ruffato. Pois o autor de “Todas as flores”, João Emanuel Carneiro, relata um episódio curioso que lhe abriu as portas do mundo dos livros.
Na infância, diz ele, “tinha ódio dos livros”, por que sua mãe, a escritora Lélia Coelho Frota, passava o dia todo lendo. Tomado de ciúme, chegou a queimar livros escondido. Até que, aos 13 anos, passou um mês morando em Belém com a mãe, que preparava um livro sobre o museu Emílio Goeldi. Em pleno verão paraense.
“Eu não consigo lidar muito bem com calor, e o único lugar que tinha ar condicionado no museu era a biblioteca.” E assim, João começa a ler muito. “Acho que eu seria um ignaro se não fosse o clima”.
- Vale ouvir toda sua entrevista para Pedro Bial.
A dieta da paçoca
Adoro paçoquinha. É um doce simplíssimo — só açúcar e amendoim —, com aquela textura “desmancha na boca” que lembra infância. Raramente consigo comer uma só.
Esses dias coloquei sobre minha mesa no escritório um pote cheio delas, para oferecer a quem passar por ali. Mas logo agora que engrenei numa dieta? Pois é.
Sem querer, usei a mesma estratégia que uma leitora quando decidiu parar de fumar. Ela conta que andou por meses com um maço de cigarros no bolso — para renovar, a cada momento, a decisão de parar.
Resistir às paçoquinhas ao alcance da mão tem sido uma forma muito eficaz de seguir firme no controle da alimentação. E quem sabe, quando os resultados começarem a aparecer, me recompensar comendo uma. Ou duas.
O “disco” da novela
No meu aniversário de 11 anos, a novela Vale Tudo capturava a atenção do país. Era novembro de 1988, e ganhei nada menos que 8 cópias do LP da trilha sonora internacional. Era, definitivamente, o presente do momento.
Parte do fenômeno cultural, a trilha sonora de uma novela já foi uma das mais importantes plataformas de divulgação musical no Brasil. A realidade digital é bem mais fragmentada, mas a trilha continua relevante.
Em “Todas as flores”, o destaque é a música de abertura, uma regravação de “As Rosas Não Falam” na voz das duas atrizes protagonistas. Ficou muito interessante.
Com o desaparecimento do disco físico, a trilha da novela virou uma playlist do Globoplay nas plataformas de música. É um painel amplo, de Chico Buarque a Moby, com muita coisa boa para descobrir.
Errei
Na última edição, falei que os livreiros têm a “tarefa profundamente subjetiva de promover encontros inesperados entre livros e livreiros”. O certo, claro, era “entre livros e leitores”.
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