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Antes da edição de hoje, quero falar de um mimo que preparei para presentear amigos nesse final de ano: um marcador de livros inspirado pela poeta polonesa Wisława Szymborska.

Esse miniprojeto me deu muita alegria, e agora quero compartilhar com vocês, leitores queridos que me presenteiam com sua atenção por aqui.
Quer ganhar um marcador? Me manda uma mensagem por aqui com um endereço que eu mando pelo correio.
Na coluna de hoje, compartilho algumas reflexões sobre hábitos de leitura. Vamos ler? Obrigado, e até a semana que vem.
— Juliano
Como ler mais (e melhor)
Chegou a época dos balanços culturais: nas timelines começam a pipocar listas de livros, filmes, séries, músicas, podcasts — todo mundo (eu inclusive) quer compartilhar seu catálogo do ano. E não faltam plataformas digitais para exibir nossos feitos, a começar pelo retrospectiva musical do Spotify. Para os livros, temos o Goodreads. Filmes? Letterboxd.
O fenômeno é parte de uma tendência maior, que inclui os aplicativos que permitem compartilhar com o mundo seus passos caminhados, quilômetros corridos, trechos pedalados. É o “indivíduo quantificado”, como definiu a pesquisadora Deborah Lupion (vale ler essa matéria do Guardian sobre o tema).
Uma das funções populares do Goodreads é o desafio de leitura: um número de livros para ler no ano (eu atingi o meu!). É fácil polemizar: afinal, estamos consumindo arte só para cumprir um objetivo quantificado? O que é melhor: ler dezenas de livros, ou ler poucos e deixá-los decantar? E as releituras, como contabilizar? E os livros dos quais lemos apenas trechos, mesmo assim impactantes?
Não há, é claro, resposta certa ou errada. Se a meta serve de incentivo para focar na leitura, já está justificada. Carlos e Renata, do blog Lombada Quadrada, vêm aderindo ao desafio há alguns anos. “Não acontece absolutamente nada se não chegarmos na meta, mas é um recurso para entendermos se estamos lendo mais ou menos do que o de costume ao longo do ano”, disse a Renata para mim num e-mail.
E ainda tem um outro efeito surpreendente: “uma coisa que a gente faz é ‘roubar’ quando estamos perto, lendo livros mais curtos. Isso é interessante porque é o momento em que acabamos lendo poesia, contos, ensaios, enfim, livros que em geral a gente dá menos atenção ao longo do ano, porque os romances protagonizam o dia a dia”. Difícil discordar que esse é um hábito de leitura saudável.
Aproveitei para conversar com os dois sobre como fazem para ler tantos livros (chegam a 60 por ano cada um!), — uma pergunta que recebem com tanta frequência que até escreveram um post sobre como achar tempo para ler. Vale a pena. Com base nessa conversa e num ótimo post do Austin Kleon, e também na minha própria experiência, compilo abaixo algumas estratégias para todos lermos mais (e melhor).
1. Tenha sempre um livro
A estratégia mais eficaz. “Eu compro e uso bolsas que cabem livros, levo em viagens, levo no caminho pro trabalho, pro bar, pra todo canto”, conta Renata. E Carlos passou a usá-las por isso. Com o Kindle, fica ainda mais fácil carregar livros — inclusive porque você pode ler no app do celular.
2. Leia em qualquer lugar
Essa é decorrente da última. Fila do banco? Sala de espera? Com um livro sempre à mão, ele se torna um ótimo companheiro, melhor do que ficar passando o dedo na tela. Sortudos que não precisam dirigir têm ainda o metrô, o ônibus e o Uber (ainda que o audiolivro pode ser ótimo companheiro ao volante).
3. Leia só o que gosta
“Se um livro é entediante, deixe-o. Não o leia porque é famoso. Não o leia porque é moderno. Não o leia porque é antigo. Se um livro é enfadonho para você, deixe-o. Ler é buscar a felicidade pessoal, o prazer pessoal. Se não cairmos na tristeza das bibliografias, das citações.”
Pronto. A sábia frase de Jorge Luis Borges resgatada por Austin Kleon é a libertação final, se você ainda precisava de alguma. Desista rápido e avance para o próximo.
4. Seja promíscuo
Austin de novo: “Namore muitos livros até encontrar um com o qual você queira ficar. Leia mais de um livro e mais de um tipo de livro de cada vez. Deixe os autores conversarem uns com os outros.”
Eu tento ler pelo menos um de não ficção (de dia) e um de ficção (de noite) ao mesmo tempo, mas essa é uma regra bem flexível. Começo muitos livros, alguns ficam, outros ficam para outro momento.
As amostras grátis do Kindle, aliás, são ótimas para isso.
5. Procure o acaso
Há infinitas formas de escolher o próximo livro: uma lista de desejos, uma indicação ou presente, um clássico “incontestável”. Uma das mais felizes é o simples acaso. Sempre que posso, visito bibliotecas e livrarias. De repente, um livro pisca pra você e o encontro está feito.
Carlos: “o percurso é bem aleatório mesmo e isso é bem legal, porque acabamos diversificando, ampliando o repertório e conhecendo novos autores e autoras. Se for pensar na fila que temos na biblioteca, vou entrar em desespero”.
E os muitos livros comprados e não lidos da estante serão sempre um território a ser explorado.
6. Leia com amigos
Uma das experiências mais gratificantes desse ano foi o clube do livro que comecei com alguns amigos. Um jantar por mês, muito vinho e conversa, e assim lemos juntos Faulkner, Murakami, Garcia Márquez, Toni Morrison, Kafka… Sem muitas regras, sem pressão, o clube virou um estímulo divertido para ler mais e (re)descobrir livros incríveis.
Variação simples e eficaz: escolha um livro para ler ao mesmo tempo com um ou mais amigos, e marquem uma data para jantar e bater papo sobre a obra. É outra experiência de leitura.
- Tem sua estratégia própria? Me escreve, será um prazer voltar ao tema com as dicas dos leitores.
Conversa com um robô
A poderosa inteligência artificial que produz textos inacreditavelmente prontos agora está ao alcance de todos. Com o ChatGPT, você pode começar a brincar agora mesmo, e os resultados são impressionantes.
Veja nesse link a resposta ao comando “escreva um texto sobre como ler mais em 2023”. Estão lá muitas das dicas que mencionei acima, é impressionante. Ou seria apenas o senso comum? A conferir.
Como disse o Seth Godin, “isso significa que criar enormes quantidades de material medíocre está mais fácil do que nunca”.
“Se seu trabalho não for mais útil ou perspicaz ou urgente do que o GPT pode criar em 12 segundos, não interrompa as pessoas com ele. A tecnologia começa por facilitar seu o trabalho antigo, mas depois exige que seu novo trabalho seja melhor.”
O que estou lendo e ouvindo

Está disponível no Kindle por R$ 13,41 esta joia de livrinho: “África Brasil: um dia Jorge Ben voou para toda a gente ver”. Kamille Viola traça a história desse disco icônico, ponto culminante da “trilogia alquímica”. Coloquei os três álbuns da trilogia nessa playlist. O puro sumo da afro-brasilidade.
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