Bom dia! Estou de volta.
Hoje retomo a série sobre Como o Brasil se informa com uma atualização sobre a leitura de notícias online.
E trago um convite passear pela cidade a pé, explorando seus monumentos. Bora?
Espero que gostem. Boa leitura, e até a semana que vem.
— Juliano
O que diz essa estátua
Em junho de 2021, manifestantes atearam fogo à estátua do bandeirante Borba Gato, na zona sul de São Paulo, em protesto contra sua trajetória controversa. O episódio trouxe ao Brasil, finalmente, a discussão que levou à remoção de vários monumentos polêmicos no exterior.
Em 2020, levantamento do Instituto Pólis já havia mostrado que, dos 199 monumentos da cidade de São Paulo que retratam figuras humanas, 137 retratavam homens brancos, e apenas 5, pessoas pretas (4 homens e uma mulher).
É pouco, muito pouco, mas isso começou a ser corrigido: desde então, a prefeitura já instalou cinco esculturas de pessoas pretas, feitas por artistas pretos.
Ganharam as ruas de São Paulo estátuas do músico Geraldo Filme, do atleta olímpico Adhemar Ferreira da Silva, da sambista Deolinda Madre (madrinha Eunice) e do cantor Itamar Assumpção. A última a ser instalada foi a da escritora Carolina Maria de Jesus (falei dela aqui), em Parelheiros. Agora são 10: ainda pouquíssimo, mas o dobro de antes.
Monumentos artísticos são atrações culturais gratuitas que podem compor qualquer passeio a pé pela cidade. É sempre uma oportunidade de revisitar nossa história (e suas polêmicas), ao mesmo tempo em que estimulamos a curiosidade de crianças de todas as idades.
Não achei uma boa lista de monumentos de São Paulo. O melhor jeito de explorá-los é pelo site Geosampa. A navegação é pouco intuitiva, mas se você pegar o jeito, pode descobrir todos o tesouros artísticos das ruas do seu bairro (vale ver no computador e anotar ou printar antes do passeio).
- Passo a passo: é preciso dar um pouco de zoom com o símbolo “+” da esquerda; depois, role a lista da direita até “Patrimônio Cultural” e clique no “+”, em seguida clique em “Monumento”, e eles aparecerão no mapa. Para obter informações, é preciso clicar no “i” da esquerda, e depois no monumento desejado. Ufa!
Na tela abaixo, pesquisei a escultura “O Jornaleiro”, de Domenico Calabrone, instalada em 2007 na praça Cláudio Abramo.

No exterior, várias cidades adotaram um projeto que torna a visita a monumentos uma diversão: no Talking Statues, atores gravam curtos monólogos como se fossem a voz do personagem (ouça aqui algumas de Nova York e de Londres). Ao passar pela estátua, você escaneia um QR code e ouve a personalidade contar sua história.
Quando teremos as nossas estátuas falantes?
Acabou o pico pandêmico de consumo de notícias?
Esse post é parte de uma série sobre como o brasileiro se informa. Com base em dados, me propus a entender o caminho da informação no Brasil.

Escrevi no ano passado que “o brasileiro nunca leu tanta notícia online”. Eram números da pesquisa TIC Domicílios de 2020, o mais completo levantamento sobre uso da internet no Brasil.
Pois é: os dados de 2021, recém-divulgados, mudam esse retrato. Se 64% dos brasileiros diziam ter usado a internet para “ler jornais, revistas ou notícias” em 2020, esse número caiu para 54% no ano passado. Vale dizer: em 2018 e 2019, eram 56%, ou seja, podemos supor que houve um pico em 2020, e retornamos ao patamar estável dos últimos anos. Ainda vou investigar mais esse tema.
A queda foi mais acentuada entre os indivíduos de classe A: de 80% para 64%, sendo que o patamar estava acima de 80% desde 2017. Os ricos estão desistindo de se informar? Preocupante.

A pesquisa, realizada pelo Cetic.br, tem uma amostra robusta: 21 mil respondentes em todo o país, ao longo de 5 meses.
Explosão dos podcasts
A mesma pesquisa mostra uma disparada no consumo de podcasts no país. O percentual de brasileiros que consome essa mídia ainda é baixo (28% do total), mas esse total mais que dobrou de 2019, quando estava em 13%. O aumento é generalizado em todas as classes sociais.
- Vale explorar os dados completos da TIC Domicílios, cheios de insights para quem se interessa pelos caminhos da informação no Brasil.
Como ganhar uma discussão
Bem… na verdade, não vai ser fácil. A psicologia já estudou muito a possibilidade de convencimento, e a conclusão é que não estamos bem equipados para mudar de opinião, ainda mais mudar radicalmente.
Mas o debate é necessário e pode levar a lugar melhor: uma reflexão.
“O maior elogio de alguém que discorda de você não é: ‘Você estava certo’. É ‘Você me fez pensar’”, aponta o psicólogo popstar Adam Grant nesse ótimo texto. Grant é autor de best sellers, entre eles “Pense de novo — o poder de saber o que você não sabe”.
Grant parte de sua discussão com um grande amigo que era contra vacinas para entender como duas pessoas podem discordar produtivamente.
“Se duas pessoas estão sempre de acordo, pelo menos uma delas não pensa criticamente ou não fala francamente. Uma diferença de opinião não tem que ameaçar um relacionamento, pode ser uma oportunidade de aprender. As pessoas que mais lhe ensinam são as que questionam seu processo de pensamento, não as que validam suas conclusões.”
Um ensinamento fundamental nos dias de hoje, ainda mais com a proximidade das eleições.
Drummond, atual
Poesia numa hora dessas? Pois é.
Tenho meus livros de poesia juntos, evangelhos para consultas preguiçosas ou urgentes. Drummond tem seu canto.
Seu último livro foi publicado há 37 anos, e algumas de suas obras consagradas tem mais de 80 anos. Mas segue atualíssimo, como mostra Jerônimo Teixeira, estudioso do poeta, nesse texto para o Brazil Journal.
“Em uma produção poética inquieta e diversa que atravessou seis décadas, Drummond cristalizou em verso os impasses do seu tempo, que em boa parte segue sendo o nosso tempo”, define.
Teixeira garimpa na obra de Drummond referências a cinco temas contemporâneos: a guerra da Ucrânia; chuvas catastófricos; polarização política; informação e desinformação e “país bloqueado”, sobre “bloqueios que deveriam estar superados” no Brasil. Um convite a explorar a poesia do gênio com o olhar dos dias de hoje.
“Sua poesia nos aproxima da realidade”, resume Jerônimo Teixeira, concluindo com o impactante trecho de “Os ombros suportam o mundo”, de “Sentimento do mundo” (1940):
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.
- A obra completa de Drummond está sendo relançada pela editora Record, casa editorial à qual retornou recentemente. Imperdível.
O garimpo de Gil
Saiu pela Companhia das Letras uma nova edição de “Todas as letras”, que reúne cerca de 470 canções que Gilberto Gil compôs em seus mais de 60 anos de carreira.
Neste delicioso podcast, a editora nos presenteia com trechos das gravações dos encontros virtuais entre Gil e Carlos Rennó, co-autor do livro. Ao comentar “Doida por uma folia”, gravada por Marinês em 1985, Gil fala de seu ofício poético:
“Tinha um gosto pela ousadia do garimpo léxico e ao mesmo tempo um cuidado no sentido de que isso fosse um garimpo mais de pedregulho do que de pedras preciosas. (…) Não era um material a ser lapidado, era para ser usado na forma bruta da extração inicial. A memória que eu tenho do ímpeto poético é essa: eu gostava de encontrar palavras, encontrar modos de concatenação, de rimas… mas tudo para que a compreensão fosse imediata.”
Um artista generoso com seu público. Vale ouvir o podcast inteiro, que trata também de “Figura de retórica” (1971), “Jubiabá” (1986), “Opachorô” (1995), “Não grude não” (2007) e “Não tenho medo da morte” (2007).
PS: O ano de 1942 nos deu gigantes da música (além do meu querido pai, claro). Os 80 anos de Gil, Caetano, Paulinho da Viola e Milton Nascimento já estão provocando uma avalanche de conteúdos comemorativos, como o livro de Gil e o comovente especial de Caetano exibido neste domingo. Sorte de fãs como nós. Ficarei de olho e comentarei nesse espaço.
Arroz de paio
Simples, rápido e delicioso:
- Tire a pele e fatie o paio finamente;
- Frite o paio numa panela funda, e reserve;
- Frite cebola e alho em azeite, depois junte o arroz e frite um pouco mais. Acrescente sal e pimenta do reino (acho que vai uma páprica também, não coloquei porque não tinha);
- Acrescente extrato de tomate (você saberá quanto, para dar cor);
- Devolva o paio à panela;
- Acrescente a quantidade de água recomendada para a quantidade de arroz;
- Cozinhe até o arroz ficar na textura desejada. Se necessário, acrescente um pouco mais de água.
Voilá! Sirva com coentro fresco picado e molho de pimenta.
- Dá uma olhada na minha página de receitas. Tem muita ideia boa!
O que estou lendo
- “Terra sonâmbula”, de Mia Couto: primorosa prosa poética, ambientada na guerra civil do Moçambique.
- “Coração das trevas”: a obra de Joseph Conrad que inspirou “Apocalypse Now” ganhou nova edição da Antofágica (linda como sempre).
- “Sentimental”, de Eucanãa Ferraz, e “Risque esta palavra”, de Ana Martins Marques: novos habitantes da prateleira de poesia.
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