Bom dia, boa tarde!
Ouvi essa semana que “estar ocupado” é simplesmente uma questão de prioridades. Não é? E tudo bem.
Então atrasei, mas cheguei. Espero que gostem, tem muita coisa bacana.
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Boa leitura, e até a semana que vem.
Sai do TikTok e vai jogar videogame, menino!
Minha filha ganhou um Playstation recentemente, e me surpreendi com minha sensação de alívio. Afinal, durante muito tempo ouvimos sobre os prejuízos dos videogames, e sobre adolescentes zumbis trancados em seus quartos jogando sem parar, fritando seus cérebros.
É claro que nada supera brincar do lado de fora, correr, fazer atividade física e conviver com amigos. Mas comparado ao tempo gasto em vídeos curtos nas mídias sociais (TikTok, Instagram, YouTube), à mercê de seus algoritmos superpoderosos, o videogame se mostra uma atividade estimulante — que pode até melhorar o cérebro das crianças e adolescentes, segundo uma recém-publicada revisão de mais de uma década de estudos científicos sobre o tema.
“Os resultados positivos foram todos vistos em pessoas que têm uma relação saudável com os jogos”, disse ao Wall Street Journal a psicóloga Mona Moisala, que participou da revisão.
E o que é um relação saudável com jogos?
“O que importa é se o jogo está interferindo no sono das crianças, na atividade física, na nutrição ou nas notas, e se as crianças gostam de fazer coisas com amigos que não envolvem jogos”, resume a colunista do WSJ.
Nos dias de hoje, é impraticável, e talvez nem seja desejável, imaginar uma criança que não passe algum tempo do dia diante da tela. Mas podemos cuidar para escolher atividades digitais mais saudáveis.
A gestão de crise (climática) do HSBC
O mundo das finanças foi sacudido na última semana pelo “sincericídio” de um executivo do banco HSBC. Diretor de “investimentos responsáveis”, ele deu uma palestra intitulada “Investidores não precisam se preocupar com riscos climáticos”.
Vocês imaginam o resultado: revolta nas redes sociais, reprimendas duras de especialistas e uma nota do CEO do banco dizendo que o conteúdo “não reflete a visão” da liderança. Kirk foi “suspenso”. Gestão de crise clássica.
O executivo não negou o aquecimento global. Seu ponto é: os alertas sobre o impacto em ativos financeiros estariam exagerados, e a capacidade do ser humano se adaptar, subestimada.
O Wall Street Journal, voz liberal do mercado financeiro, defendeu em editorial que Kirk foi suspenso por “falar verdades”. No New York Times, de inclinação progressista, o economista Paul Krugman viu sua fala com um alerta ao contrário: precisamos, sim, nos preocupar com a mudança climática já.
Vale a pena assistir a palestra e formar seu próprio juízo, são apenas 16 minutos.
No slide que mais chamou a minha atenção ele compara as menções à “catástrofe climática” no noticiário e o preço dos ativos. “Quanto mais falam que o mundo vai acabar, mais o preço dos ativos sobe. Como isso é possível?”.

Pois é. Há muitos argumentos para discordar de Stuart Kirk — e ele certamente não ajudou sua tese quando disse “Quem se importa se Miami estiver seis metros debaixo d’água em 100 anos? Amsterdã está seis metros debaixo d’água há séculos, e esse é um lugar muito agradável. Nós vamos lidar com isso”.
Mas é sempre positivo ouvir visões contrárias que questionam teses dominantes. O pior que podemos fazer para salvar o planeta é aceitar pelo valor de face cada relato alarmista.
Quem é criativo?
“Eu queria ser criativo”
“Não sou uma pessoa criativa”
São afirmações que ouvimos com frequência, e o designer Adam J. Kurtz faz uma reflexão importante sobre elas nesta entrevista:
“A palavra ‘criativo’ [em inglês, creative, sem gênero definido] assusta as pessoas da mesma forma que ‘artista’. Eu temo que as pessoas podem se sentir limitadas por isso. E, para mim, estar vivo significa que você é uma pessoa criativa. Considero a criatividade uma daquelas coisas humanas básicas que nós todos temos um pouco”.
Vale ouvir as duas entrevistas de Adam ao podcast Design Matters (voltarei a ele).
PS: Quem me apresentou Adam foi minha filha, que descobriu seu livro “1 página de cada vez”. É um divertido diário cheio de provocações a cada página.
Escrever para aprender
Ganhador de dois Pullitzer, David McCullough é um dos maiores autores americanos de livros históricos. Em 2019, aos 85 anos e com 12 livros publicados, a maioria best sellers, McCullough relatou nesta ótima entrevista um episódio que ilustra seu processo de escolha de temas para escrever.
Aos trinta e poucos anos, enquanto trabalhava em seu segundo livro, o autor foi a uma festa na capital americana, onde foi apresentado a uma figurona. “Este é David McCullough, ele está escrevendo um livro sobre a Ponte do Brooklyn”.
A moça jogou a cabeça para trás e exclamou, com desdém: “Quem no mundo iria querer ler um livro sobre a Ponte do Brooklyn?”. O jovem escritor voltou para casa esmurrando o volante do carro, enfurecido.
“De repente, me ocorreu: essa é uma ótima pergunta. [Pensei] ‘qual é sua resposta, McCullough?’ E minha resposta foi que eu gostaria de ler um livro sobre a Ponte do Brooklyn. O livro que eu gostaria de ler sobre a Ponte do Brooklyn não existe, vou escrevê-lo para que eu possa lê-lo”.
Pois é. McCullough diz que esse foi o critério para escolher o tema de todos os seus livros. “Quero escrever um livro sobre um assunto sobre o qual gostaria de saber mais. E sei que, escrevendo um livro, aprenderei imensamente sobre aquilo. Para mim, é como ir a um país onde nunca pus os pés. Essa é a aventura, e tento olhar para tudo com um novo olhar.”
- O livro sobre a ponte saiu e foi um sucesso. Já li dele “1776”, sobre a independência americana, e “The Path Between The Seas”, sobre a construção do canal do Panamá. Os dois ótimos. Curiosamente, não achei traduções de suas obras no Brasil.
Como escrever um livro por ano
“Só escrevo quando estou inspirado. Por sorte, a inspiração chega sempre às 9 horas toda manhã.”
A frase (provavelmente de William Faulkner, segundo o Quote Investigator) resume um tema recorrente nesse espaço: o processo criativo envolve disciplina — produzir sempre e regularmente.
Há uma década, Walter Longo publica um livro por ano. Publicitário e ex-executivo de mídia, Longo transformou sua curiosidade em produto editorial. Nos últimos meses, depois de ler um monte sobre o metaverso, virou um dos palestrantes mais requisitados sobre o tema.
Preparar uma palestra, aliás, é parte de seu ritual criativo, que ele detalhou nesta entrevista.
Após a escolha do tema, Longo “passa o ano todo lendo” sobre ele. “Quando chega janeiro, ele já está mais ou menos entabulado, mais ou menos entendido no seu conteúdo”.
O texto será então finalizado numa viagem de esqui. “Todo ano tem esse ritual de esquiar de manhã, até depois do almoço, aí escrevo até 8 horas da noite e depois eu vou jantar. (…) Então eu termino [o livro] e preparo uma palestra com a qual eu trabalho o ano inteiro.” O livro é lançado sempre no segundo semestre daquele ano.
É claro que esquiar um mês por ano é para poucos, mas está ao alcance de todos ter um rotina criativa — escrever uma vez por dia, por semana, por mês ou por ano.
Na entrevista, Longo reforça também outros dois ensinamentos comumente compartilhados por escritores:
- “Um livro a gente não termina, a gente desiste dele. Porque se você for deixando, você não termina nunca. Sempre tem uma pesquisa a mais que saiu fresquinha, uma notícia de jornal que reforça a sua tese… Então tem um momento que você fala assim: “chega”, o livro tá entregue porque eu desisti dele. E porque você não termina você tem a vontade de escrever o próximo e essa é uma sequência que dá início então a você escrever muitos livros.”
- “Escrever é um exercício onde a pessoa que mais aprende é quem escreve, porque obriga você a ir atrás da informação, a gerar introspecção, a discutir com outras, e você vai formando seu juízo de valor.”
PS: a palestra de Walter Longo sobre o metaverso é um excelente ponto de partida para entender melhor esse tema e suas possibilidades.
Vento de livros
Vem aí dois eventos em São Paulo para quem ama livros:
- De quarta (8/6) a domingo (12/6), rola na praça em frente ao Estádio do Pacaembu A Feira do Livro.
- De 2 a 10/7, acontece a Bienal do Livro, agora no Expo Center Norte.
São eventos com características diferentes, mas ambos recheados de debates, palestras e estandes de editoras apresentando lançamentos e obras do acervo, além de oportunidades de interação com autores.
Bora?
O que estou ouvindo

Mais uma novidade tornada possível pela música digital: um artista “completar” seu álbum após o lançamento. Quem entrar agora no excelente “Portas”, de Marisa Monte, verá duas canções que não faziam parte da lista original de faixas, lançada em julho do ano passado.
A última chegou na semana passada, o delicioso samba-rock “Feliz, Alegre e Forte”.
O que importa é aqui e agora
Toda hora é hora
Enquanto eu posso estar
Sugestão para melhorar qualquer dia seu: comece pela última, e emende nas outras 17 músicas do disco.
Errei
Na frase que citei no post sobre o Quote Investigador, troquei uma palavra que acabou com o sentido. Aqui vai a versão correta:
“Uma mentira pode viajar meio mundo enquanto a verdade está colocando seus sapatos”
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