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Voltando das férias renovado e cheio de ideias. Desejo a todos um ano pleno, momento a momento.
Espero que gostem da leitura, e até a próxima.
— Juliano
PS: curtiu? Manda para alguém, é só encaminhar! Obrigado.
O jogo anti-vício
Quem já jogou term.ooo hoje teve 3 a 5 minutos de satisfação, e fim. Só amanhã. (Não sabe do que estou falando? Clique, jogue e volte).
Não é surpreendente que um jogo viral não exija horas de sua atenção nem te bombardeie com anúncios? Alguns minutos, e a vida volta ao seu curso. Estamos liberados para trabalhar, fazer exercício, ler um livro, ou mesmo perder horas nos vícios digitais conhecidos.
O criador, Josh Wardle, não cansa de dizer em entrevistas que não tem intenção de hangar dinheiro com o jogo. “Não entendo porque uma coisa não pode ser apenas divertida.”
Quem quiser mais uma “dose”, pode gastar alguns minutos mais nas cópias (Letreco e Palavra do dia são algumas delas), ou ainda arriscar em espanhol e o original em inglês, Wordle. E aí acabou mesmo.
Bom, exceto para quem não resiste a um buraco negro digital. Tem a turma que hackeou o jogo e descobriu todas as palavras, tem um que se irritou com as postagens no Twitter e criou um bot que respondia com spoiler de amanhã (depois banido), e tem até uns nerds que criam estratégias usando planilhas Excel. E tem a cópia do Wordle com até 11 letras, quando a diversão obviamente acaba.
Minha sugestão? 3 minutos de term.ooo, 3 minutos de Wordle. E segue o B-A-I-L-E (ótima palavra com três vogais, se você me entende).
A leitura atenta que livrou um homem negro preso injustamente
Anthony Broadwater tinha 20 anos quando foi condenado e preso pelo estupro de uma jovem. Era 1982 em Syracuse, norte do Estado de Nova York. O jovem negro passou 17 anos na cadeia. Foi solto em liberdade condicional. Em 2021, ele foi inocentado pela Justiça americana. Tinha passado a maior parte da vida respondendo por um crime que não cometera.
A virada do enredo começou com a simples leitura atenta de um livro sobre o caso, escrito por Alice Sebold, a jovem branca vítima do estupro.
Como conta o NY Times nessa longa matéria, o ex-advogado Timothy Mucciante, preso múltiplas vezes por fraude (ele reconhece os crimes), estava envolvido na produção de um filme baseado no livro de Alice Sebold. “À medida que ia lendo o roteiro e o livro, ele ficou impressionado com a pouca evidência apresentada no julgamento.”
Mucciante contratou um policial aposentado para investigar o caso. Intrigado, o detetive particular se juntou a dois advogados. Bastou ler o processo para perceber a fraqueza das provas contra Anthony Broadwater.
Um dos advogados resumiu: “Quarenta anos, e tudo o que foi preciso foi alguém pegar a transcrição do julgamento e, francamente, falar com Anthony e ler ‘Lucky’ [o livro de Alice Sebold]”.
O livro foi recolhido. Sua autora divulgou um pedido de desculpas emotivo. Um trecho:
“Lamento acima de tudo pelo fato de que a vida que você poderia ter levado foi injustamente roubada de você, e sei que nenhuma desculpa pode mudar o que aconteceu com você e nunca mudará. (…) Meu objetivo em 1982 era a justiça — não perpetuar a injustiça. E certamente não para sempre, e irreparavelmente, alterar a vida de um jovem pelo próprio crime que havia alterado a minha. Sou grata que o Sr. Broadwater tenha finalmente recebido justiça, mas o fato é que há 40 anos atrás, ele se tornou outro jovem negro brutalizado por nosso sistema jurídico imperfeito.”
O que diz Anthony? “Foi muito forte e corajoso da parte dela fazer isso. (…) Ela passou por uma provação, e eu também passei por uma”. Ele vai processar o governo.
Um história trágica que nos fala sobre racismo estrutural, sobre a falibilidade da escrita e sobre as possibilidades de reconciliação.
- Leia a íntegra da matéria do NY Times.
Um chamado para escrever bem
Para quem anda fugindo da página em branco, um chamado. Para quem já escreve com frequência, um guia para acertar o texto e livrar-se dos maus hábitos. Em qualquer caso, “Como escrever bem”, de William Zinsser, é um companheiro indispensável para a produção de de não-ficção. Esgotado (e disputadíssimo) há anos, o clássico acaba de ser relançado pela editora Fósforo.
Lançado em 1976, ganhou uma edição comemorativa 30 anos depois, na qual foi baseada a tradução brasileira. Chegou ao Brasil pelas mãos de Otavio Frias Filho, então diretor de redação da Folha, que fez do livro leitura obrigatória para a redação do jornal.
Zinsser, ele próprio um experimentado autor de reportagens e livros sobre os mais diversos assuntos, compartilha seus aprendizados com bom humor e clareza. É uma leitura rápida, que me deixou com vontade de correr para o teclado e praticar. Seus mantras são a concisão e a objetividade. “A boa escrita é enxuta e segura.” E não faltam exemplos práticos que você, como eu, se pegará lembrando enquanto ordena as frases de seu próximo texto (esse aqui, por exemplo). Sobretudo na reescrita, outro pilar de sua doutrina.
“Eu não gosto de escrever; eu gosto de ter escrito. Mas adoro reescrever. Gosto, especialmente, de cortar: apertar a tecla ‘delete’ e ver uma palavra, uma frase ou uma sentença inúteis se esvaírem no mundo da eletricidade”.
Remover de maneira implacável o que está sobrando (“o remédio mais rápido”, diz Zinsser) é um daqueles conselhos que o autor de não-ficção teima em esquecer. Outro é fugir dos clichês — “eles estão por toda parte, como amigos próximos querendo ajudar, sempre prontos para expressar ideias complexas pelo caminho fácil da metáfora.” Assim são a maior parte das orientações do livro: lembretes valiosos. O que me surpreendeu, na verdade, foi a permanente referência ao próprio escritor, o sujeito por trás das palavras, muitas vezes assunto tabu para o jornalista. “Em última análise, o produto que todo escritor tem para vender não é o assunto sobre o qual escreve, mas sim quem ele, ou ela, é.”
Não se deve ter medo de mostrar o rosto ao leitor. Com disciplina, é possível escrever um texto atraente sobre qualquer tema que nos interessa. “Como escritor, fico impressionado com a quantidade de vezes que eu disse a mim mesmo ‘isso é interessante’. Se você se pegar dizendo isso, preste atenção e siga o seu faro. Confie em que a sua curiosidade vai se conectar com a curiosidade dos seus leitores.”
No fim, a escrita, resume Zinsser, serve para nos dar “uma vida interessante e uma formação contínua”. O que você está esperando?
A tragédia nas ruas de SP
31,8 mil pessoas vivem nas ruas de São Paulo. Eram 7 mil a menos em 2019. 5.700 moram na rua há menos de um ano. 8.927 moram com algum familiar, quase o dobro de 2019.
70,8% são pretos ou pardos.
Por qualquer ângulo, os dados oficiais divulgados pela Prefeitura são o retrato de uma tragédia sem fim — o número de moradores de rua nunca parou de crescer na cidade.
Não me arriscarei na busca por responsáveis — as redes sociais já trataram disso, com verdades apressadas para todas as preferências.
Meu objetivo é só convidar você a conhecer essa realidade. Até o mais egoísta e insensível poderá aproveitar para ver seus problemas cotidianos reduzidos a nada. Nós, os outros, podemos pensar onde erramos, e o que podemos fazer.
A reportagem do Fantástico é especialmente marcante. Ou você pode ler diretamente os dados oficiais e tirar suas conclusões.
Como ser um super leitor
“Ler mais livros”. Essa foi a resolução de final de ano de muita gente, eu inclusive. Pilita Clark, colunista do Financial Times, se sentiu especialmente compelida a buscar a meta após deparar com seguidas listas de pessoas que leram pelo menos um livro por semana em 2021.
Como elas conseguem? Pilita resolveu perguntar, e compilou uma lista valiosa de dicas:
1. Acorde cedo.
2. Seja implacável: se encontrar um livro ruim, largue-o. E não passe adiante!
2. Leia em qualquer lugar. “Grande leitores o fazem no ônibus, no sofá, na cama e enquanto passeiam com o cachorro, por meio de audiobooks.” (Sou totalmente adepto, e acrescento: com o app do Kindle, leia no celular e troque o Instagram por um livro no banheiro, na fila do banco, na espera do médico…).
3. Apenas sobrevoe livros de não-ficção. “Ficção exige uma leitura palavra por palavra.” No caso de não ficção, o autor Peter Bregman sugere que é mais importante “entender, e não ler”, a maior parte dos livros. “Limite-se ao índice, a introdução, a conclusão e algumas páginas de cada capítulo.” (Será? Tenho dúvidas se consigo, mas prometo testar.)
4. Leia livros simultaneamente. “O truque é variar. Não leia duas histórias monumentais ao mesmo tempo”. (Também adoto. Minha estratégia atual: ler ao mesmo tempo um romance, um livro de não ficção, sempre com um terceiro no Kindle para ler no escuro e no celular).
5. Varie a leitura. “Alterne autores, épocas e tópicos.”
6. “Leia sobre o que você não sabe. É mais divertido”.
6. “Leia em blocos. Não pare em um livro sobre Marie Curie, leia alguns”.
7. Desconecte. Coloque o celular em modo avião ou desligue notificações.
8. “Mantenha o compromisso. É possível ver Netflix, mas não no volume que muitos de nós estamos acostumados.”
- Confira as listas de livros de 2021 dos meus super leitores preferidos: Carlos Alencar e Renata Beltrão, do blog Lombada Quadrada, e João Villaverde, da newsletter Refúgio do Ruído.
O que estou lendo
- “Ensaio sobre a cegueira”, de José Saramago: vou acabar lendo tudo desse gênio.
- “Cem anos de solidão”, de Gabriel Garcia Marquez. Que história! Nos leva para morar em outra realidade.
- “How to make the world add up”, de Tim Harford, autor de um podcast sobre números do nosso cotidiano.
- “A empresa antirracista”, de Maurício Pestana: entrevistas sobre o tema com CEOs e executivos de algumas das maiores empresas do país.
O que estou ouvindo
A Disney se superou. “Não falamos com Bruno”, do filme “Encanto” (ainda nos cinemas e já no Disney+), bateu a marca do megahit “Let It Go”, de Frozen, e já a música mais tocada de seus filmes de animação. A canção é um chiclete delicioso, e o filme, programa obrigatório em família.
Vale ouvir em português, inglês ou no espanhol nativo dos personagens do filme. A Disney montou ainda esse clipe genial com trechos a música cantada em 21 idiomas, demonstração de sua força global:
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