Esse post é parte de uma série sobre como o brasileiro se informa. Com base em dados, me propus a entender o caminho da informação no Brasil.
Está série começou com um retrato alarmante da alfabetização no país. Como base em dados oficiais, mostrei que 11 milhões de brasileiros não sabem nem escrever um bilhete simples e mais de 50 milhões compreendem pouquíssimo das informações escritas que circulam no país. Apenas 17 milhões tem o nível mais alto de alfabetização.
A pesquisa Retratos de leitura no Brasil oferece um quadro não menos preocupante, mas traz aspectos animadores. É uma pesquisa robusta, com 8.076 entrevistas presenciais em todas as regiões do país. A última foi realizada no final de 2019, portanto não captou eventuais mudanças trazidas pela pandemia. O interessante é que a base inclui pessoas não alfabetizadas com 5 anos ou mais.
A metodologia considerou “leitor” quem havia lido, inteiro ou em partes, pelo menos 1 livro nos 3 meses anteriores. Por esse critério, o Brasil tinha, em 2019, 100 milhões de leitores — uma queda em relação aos 105 milhões da edição anterior, realizada em 2015.

Quando falamos de quem leu um livro inteiro nos últimos 3 meses, o número cai para 59,9 milhões que haviam lido, em média, 2,04 livros nos três meses anteriores. É um número alto, mas não podemos ignorar seu outro lado: 133 milhões de brasileiros não tinham terminado nenhum livro no período.
Se ampliamos o período, o brasileiro lê uma média de 2,5 livros por ano, mesmo entre os classificados como não leitores.
Como em todos os aspectos que analisei nesse série, a leitura é também um retrato da desigualdade no país. Há uma forte correlação entre os índices de leitura e aspectos como escolaridade e renda. Ainda assim, a classe D/E tem 38% de leitores, ou 21 milhões de pessoas.

A pesquisa mostra ainda o papel preponderante da Bíblia nos hábitos de leitura do brasileiro — está no topo das listas de “último livro lido ou que está lendo”.

Chamou a minha atenção também o principal motivo apontado para não ter lido mais: falta de tempo. O dado é especialmente curioso considerando que, segundo a mesma pesquisa, a principal atividade do brasileiro em seu tempo livre é assistir televisão (olha ela aí de novo).


Após baque de 2020, vendas crescem em 2021
O mercado editorial sofreu com a pandemia, como mostra a pesquisa anual do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). Em 2020, foram vendidos um total de 354 milhões de exemplares, queda de 18% em relação ao ano anterior.
Dado interessante: os governos são os maiores compradores de livros do país, responsáveis por 54% das vendas de 2020.

Ainda não temos o dado completo de 2021, mas as vendas no varejo mostram uma retomada. Até novembro, tinham sido vendidos 43,8 milhões de livros, um terço ao mais que no mesmo período de 2020.

Amanhã fala sobre o que o brasileiro está lendo. Como no caso do YouTube da semana passada, não é o que você está pensando.
Aprenda mais:
- Essa matéria da Piauí dá um excelente panorama da situação atual do mercado editorial no país, incluindo o papel da Amazon em ditar seus rumos.
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