Já comentei aqui que a edição em papel dos “jornais” (nome-legado que damos a veículos como O Globo, Folha, Estadão e Valor) tem cada vez menos relevância. Sua venda diminuí continuamente e sua proporção em relação à audiência digital desses veículos, também.
Por isso fiquei intrigado quando vi o anúncio da reformulação da edição impressa do Estadão, que envolveu enorme esforço da redação e investimento da empresa. Ao me aprofundar no tema, encontrei algumas respostas interessantes.
Olhando para os números de circulação, descobri que, entre os quatro grandes jornais de alcance nacional, o Estadão é o que tem a maior proporção de assinantes da edição impressa — 32,3% do total (eram 60% em 2016). Além disso, o jornal assumiu este ano a liderança nacional em circulação impressa, após uma queda dos demais veículos nesse canal.
Como disse Francisco Mesquita Neto, diretor-presidente do Grupo Estado, “o Estadão hoje é uma empresa multiplataforma, a gente fala com nossas audiências de várias maneiras. E uma delas é o produto impresso, muito valorizado por um público bastante importante para nós”.
Ou seja, é uma parcela de clientes suficientemente relevante para justificar o investimento. Mas não é só isso.
“O impresso ainda vive e é um produto importante do ponto de vista de faturamento para o Estadão e outras empresas do setor. Também tem impacto brutal sob o ponto de vista de agenda pública. Uma manchete no impresso tem uma força muito grande”, comentou Fabio Sales, editor executivo multimídia do Estadão.
Faz sentido. Se a audiência nominal do papel não se compara mais à dos canais digitais, o prestígio de um espaço na primeira página continua alto. A capa de um jornal ou revista é um conteúdo compartilhável (como um meme) que serve de vitrine para a essência do trabalho jornalístico: hierarquizar e sintetizar os fatos. E tem ainda o caráter de documento histórico.
Não à toa, telejornais matinais ainda gastam bons minutos para falar das manchetes do dia.
Vale dizer que a reformulação do impresso se estende também ao conteúdo — novas seções e formatos —, com reflexo para as plataformas digitais.
Por fim, é certo que a mudança representa uma oportunidade para o jornal gerar buzz em torno de sua marca. Como eu, muitos leitores distantes voltaram sua atenção ao Estadão neste domingo. É a mesma lógica do iPhone ou de modelos de carro: de tempos em tempos, precisa dar uma mexida.
Ao falar dos jornais na série Como o Brasil se informa, afirmei que “sua edição impressa vai se tornando um produto de nicho, sustentada por espaços publicitários cujo prestígio ainda justifica valores significativamente mais altos”. É exatamente o sentido do novo movimento do Estadão.
Para o jornalismo, é animador ver a inovação aparecer em veículos tradicionais. E como leitor de edições impressas no iPad, fiquei satisfeito com as novidades.
- Na série que mencionei acima, investigo os caminhos da informação no país a partir de dados. Aqui você encontra todos os posts.
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