Esse post é parte de uma série sobre como o brasileiro se informa. Com base em dados, me propus a entender o caminho da informação no Brasil.
O senso comum sobre consumo de mídia no Brasil diz que “todo mundo agora só lê notícia na rede social”. Será? Já mostrei aqui com números que a TV aberta segue sendo o principal meio de acesso à informação para a maior parte dos brasileiros, mas vale a pena explorar os dados sobre a real importância das redes sociais no ecossistema da informação do país.
Começando pelo começo: quantos usuários cada rede social tem no Brasil? Nenhuma delas divulga dados desagregados por país, então recorro ao mais recente relatório We Are Social, que extrapola informações das plataformas de anúncios de cada rede para estimar o total de usuários.
O Facebook lidera com 130 milhões de usuários, seguido pelo YouTube, que ainda supera o Instagram — talvez contrariando o senso comum mais uma vez.

É sempre bom lembrar o tamanho do Twitter no país: apenas 13% do Facebook. Mas cuidado: e se um jornalista de TV aberta ler um tweet e decidir levar o assunto ao telejornal? Pois os jornalistas são justamente um dos grupos mais ativos nessa rede social.
E o onipresente WhatsApp? É rede social? Essa é uma discussão longa, mas tendo a concluir que não, pelo caráter majoritariamente privado do que se diz ali. Sim, há os inúmeros grupos, mas ainda assim seu conteúdo está longe de estar exposto como um post de Instagram. Dito isso, essa pesquisa Mobile Time/Opinion Box vem comprovando o óbvio: 99% dos smartphones do país tem o “zap” instalado. Se lembrarmos que 79,3% da população com 10 anos ou mais tem um celular (IBGE), estamos falando em mais 140 milhões de usuários no país.
E como as redes sociais são usadas para ler notícia? A pesquisa que melhor analisa esse comportamento é o Digital News Report, do Reuters Institute. Observação: como a pesquisa é online, considera-se aqui apenas quem tem algum acesso à internet, ou 83% da população.
O Facebook, mais uma vez, é o preferido dos brasileiros para acesso ao noticiário, mas esse uso vem caindo ao longo do tempo, como mostra o gráfico abaixo. Já está quase empatando com o WhatsApp, e o uso Instagram dobrou nos últimos anos. Vale lembrar sempre que os três aplicativos são controlados pela mesma companhia americana.
Chama a atenção o fato de que menos da metade dos entrevistados diz usar redes sociais para ler notícias.

O Reuters Institute pergunta ainda se as pessoas confiam no que lêem nas redes. No Brasil, a proporção vem se mantendo em torno de 30%, ou seja, mais de dois terços da população diz não confiar em notícias de redes sociais. Mas esse dado também exige cautela: em questões que tem algum componente moral, como é o caso das fake news, um questionário de pesquisa costuma ter um efeito edificante sobre seu respondente.
A conclusão é que as redes sociais tem lugar proeminente na circulação de notícias no país, mas seu papel deve ser analisado sempre como parte de uma dinâmica maior, que envolve todos os demais meio e é alimentada, principalmente, pela produção diária do jornalismo profissional. E, como tudo o mais que temos visto nesta série, é um comportamento que varia enormemente entre os vários estratos da população.
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