Chegou a minha vez. Um ano e três meses depois, meu braço recebeu a primeira dose da vacina AstraZeneca. Não teve selfie, e no minuto seguinte (literalmente) eu já estava entrando no próximo “call”. “Chorou?”, perguntou um amigo. Não deu tempo.
É claro que me sinto mais seguro com o reforço imunizante, e isso diminui a angústia de todos os dias. Agradeço à enorme corrente humana que tornou isso possível: pesquisadores, profissionais de saúde, funcionários de governos, trabalhadores de logística.
Devo confessar que o momento tão sonhado foi, em certa medida, anticlimático. Não só porque milhares continuam morrendo, mas porque pouco muda imediatamente na vida real de um mundo em pandemia. No lugar de um “momento revéillon” pós vacina, temos um “longo adeus à Covid-19”, como diz a capa da revista The Economist desta semana.

É contraintuitivo: o que trará de volta os abraços e as aglomerações não é a minha ou a sua vacina. É a vacina de todo mundo, ou de quase todo mundo. O que só torna ainda mais incompreensível o comportamento “sommelier”: para afastar a pandemia, pouco adianta uma minoria tomar a “melhor” (sic) vacina. Temos que torcer para que muitos tomem qualquer vacina, o mais rápido possível.
Vai ser aos poucos, mas alguma normalidade voltará.
- Segundo a The Economist, aliás, numa escala de 0 a 100 de normalidade, o Brasil já está em 66 — em março de 2020, estávamos perto de 40. A revista lançou um interessante “índice de normalidade”. Considerando o período pré-pandemia como 100, o indicador combina dados como tempo fora de casa, tráfego nas ruas e frequência de vôos para calcular a taxa de normalidade em 50 países de mundo.
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