Esse post é parte de uma série sobre como o brasileiro se informa. Com base em dados, me propus a entender o caminho da informação no Brasil.
O que é um jornal? Até a revolução digital, era um conjunto de folhas de papel que chegava todos os dias de manhã com as notícias das 24 horas anteriores.
No mundo de hoje, jornal é o nome-legado que damos a alguns dos mais importantes veículos jornalísticos do país — Valor, Folha, O Globo, Estadão, e por aí vai.
Nessas empresas de mídia, o produto noticioso menos relevante, de menor audiência, é justamente aquela tal edição diária, entregue em papel e também em versão “impressa digital”, por assim dizer, para quem acompanha via aplicativos.
É o que mostram os dados de circulação e audiência garimpados pela internet.
Vejamos o caso da Folha, o maior jornal (sem aspas) do Brasil em número de assinantes — tinha 343,5 mil no final de 2020, segundo o IVC, que há décadas audita esses números no país. Desses, 65,3 mil ainda recebiam uma edição de papel todos os dias — não há dados abertos sobre a venda avulsa, na boa e velha banca de jornal. Os 278 mil restantes podem tem acesso a todo o conteúdo do site e ainda podem baixar uma “réplica digital” do impresso (não sabemos se o fazem).
Agora vejamos a audiência do site da Folha: segundo dados da Comscore, referência global no tema, são 27,27 milhões de visitantes únicos por mês. Ou seja: quase 1 milhão por dia, em média, ou mais de 3 vezes o número de assinantes.
A proporção se repete para os grandes “jornais” (com aspas) do país, e O Globo assume a liderança quando se fala da audiência dos sites, como revelam dados divulgados pela própria Folha.
Os números mostram ainda que a audiência desses jornais vem crescendo, e a pandemia aumentou seu tráfego. Vale lembrar que Folha, O Globo e Valor “moram” em dois dos maiores portais da internet brasileira, o UOL e o Globo.com (assunto para outro post).
A conclusão é que os assim chamados “jornais” se tornaram, na verdade, veículos jornalísticos digitais, lidos majoritariamente por visitantes em seus sites — a maior parte pelo celular, é seguro inferir. Em termos de audiência, sua edição impressa vai se tornando um produto de nicho, sustentada por espaços publicitários cujo prestígio ainda justifica valores significativamente mais altos.
Como leitor, faço parte da minoria que ainda vê valor nas edições impressas, que consumo via aplicativo no iPad:
- O recorte da realidade a cada 24 horas, com começo, meio e fim.
- A hierarquização do noticiário, principal serviço prestado pelos editores.
- O hábito da sequência diária de seções e editoriais.
- O registro da primeira página, documento histórico a ser consultado no futuro.
Já para quem quem planeja comunicação e deseja alcançar seu público, é pouco relevante se uma notícia está eternizada na versão impressa de um jornal. Em se tratando dos tradicionais “jornalões”, o que o brasileiro lê, de verdade, é o “jornal” na internet.
Abaixo alguns números interessantes:



Você precisa fazer login para comentar.