Só jornalista pode entrevistar? É uma provocação, claro, mas a questão é cheia de nuances.
Sim, o jornalismo profissional tem controles e segue procedimentos para garantir sua qualidade. Mas a mídia está cheia de exemplos de excelentes entrevistadores com outras origens.
Um episódio na crise do GameStop evidenciou o desafio de garantir rigor num ambiente em que todo mundo é uma mídia.
No dia 28 de janeiro, uma quinta-feira, a Robinhood, plataforma voltada a pequenos investidores, interrompeu a negociação de ações da GameStop após uma explosão no volume de transações.
Andrew Ross Sorkin, um dos principais repórteres na cobertura do mercado financeiro americano, conseguiu uma exclusiva com o CEO da Robinhood na CNBC. Apertado sobre os motivos da suspensão, Vlad Tenev enrolou, não deu detalhes e chegou a negar que a empresa tivesse um problema de liquidez.
No domingo seguinte, Vlad encontrou Elon Musk numa sala de Clubhouse, e o CEO da Tesla assumiu o inesperado papel de entrevistador. Numa bateria de perguntas duras, Musk arrancou do executivo o motivo para a suspensão: a necessidade de fazer frente a uma exigência de R$ 3 bilhões de um órgão regulador do mercado.
Pois é: na frente de um jornalista profissional, Vlad Tenev tergiversou. Deu o furo numa “entrevista” feita por um CEO numa rede social.
O episódio diz muito sobre o estado das coisas na mídia, e teve gente que achou até que foi tudo uma jogada de PR. Faria sentido.
É claro que jornalistas não têm o monopólio da difusão da informação. Mas é de se esperar que todos que se aventurem na produção de conteúdo informativo cuidem para evitar conflitos de interesse, só difundir fatos verificados, garantir equilíbrio, entre outros preceitos ensinados nas escolas de jornalismo.
Aprenda mais:
- O podcast em que Andrew Ross Sorkin, que também é um dos criadores de Billions, contou os detalhes do caso. Vale a pena ouvir sua visão sobre a crise toda.