Itamar Vieira Júnior está em todo lugar. Ganhador de alguns dos principais prêmios literários da língua portuguesa, seu romance de estréia, “Torto Arado”, é um monumento.
Baixei uma amostra no Kindle quando vi seu nome anunciado para o Roda Viva, num dia de semana, pouco antes de dormir. O impacto da primeira cena ameaçou meu sono e me fez comprar a edição física na mesma hora.
A leitura de Torto Arado é uma viagem a um Brasil que, pelas pistas largadas pelo autor, parece distante no tempo e no espaço, mas está vivo de modo perturbador no nosso dia a dia.
Assim como a história do povo negro é “triste, mas bonita”, na descrição de uma das narradoras, Torto Arado encanta ao falar de uma gente de vida sofrida. “O sofrimento era o sangue que corria nas veias de Água Negra”, a fazenda da Chapada Diamantina que é palco do romance.
É uma narrativa “parida pela terra”, como seus personagens. Itamar Vieira Júnior nos ensina sobre a roça, os animais e os rios, sobre as crenças do jarê, sobre a injustiça e a desigualdade crônica. “O trauma da escravidão nos persegue até hoje”, disse, com precisão, no Roda Viva.
O livro é marcado por temas de enorme carga política, mas essa não é sua motivação prioritária. “A vontade mesmo é de fabular, de criar.”
E Itamar já está fabulando novamente. Torto Arado, revela, é parte de uma trilogia, e o próximo volume está a caminho.
Como descreveu Vera Magalhães na abertura do Roda Viva, é uma obra que, como clássico que já é, “oferece ao leitor uma experiência única e transformadora”.
Aprenda mais:
- Sua tocante entrevista ao Roda Viva, que guardei para saborear assim que terminei o livro. Um fecho perfeito.
- O lindo trabalho de Linoca Souza, ilustradora da capa.