Em 2008, o veterano repórter John Authers, do Financial Times, cobria a crise financeira em Nova York. Preocupado com seus depósitos, foi a sua agência do Citibank e encontrou uma fila de clientes. Parecia uma clássica corrida bancária.
Depois de proteger-se com uma operação sugerida pela gerente, voltou à redação. Decidiu não mencionar o episódio em sua matéria, por receio de causar uma corrida de fato. Dez anos depois, Authers relataria o episódio no FT, e a reação diz tudo sobre a crise de confiança na imprensa.
Pelas redes sociais, leitores acusaram Authers de antiético por supostamente “salvar o seu” e omitir uma informação que poderia ter ajudado outros investidores. A ira de muitos leitores se voltava ao “establishment”, no qual incluem a imprensa.
“Antes, nossa palavra era aceita sem questionamento (o que não era saudável); agora, a informação é suspeita apenas por vir de nós, o que é possivelmente ainda menos saudável”, comentou Authers sobre a reação.
“A ascensão da mídia social redefiniu toda a mídia. Se o incidente na agência do Citi ocorresse hoje, alguém colocaria uma foto no Facebook e no Twitter. Poderia ou não viralizar. Mas estaria exposto, sem contexto ou explicação. O dever jornalístico que eu sentia de ser responsável e não fomentar pânico está acabando. Isso é perigoso.”
Parece familiar?
Texto publicado originalmente na edição #31 da newsletter Dicas de conteúdo.