Um impacto da pandemia: o juízes da Suprema Corte americana finalmente saíram (ainda que só um pouquinho) da toca.
Se por aqui já nem sabemos como era o STF sem transmissão ao vivo pela TV (a repórter Carolina Brígido relembra nessa ótima coluna), a transmissão das sessões nos EUA é um antigo tabu.
Até 2020, o mais perto que o público em geral podia chegar da corte era pelo áudio das sessões de “argumentos orais”, em que os juízes questionam as partes de um processo antes de tomar suas decisões. São debates intensos; advogados precisam estar prontos para perguntas duríssimas.
Mas a quarentena forçou duas inovações para a corte mais alta dos EUA:
- O debate remoto — nada de Zoom ou Teams, e sim a boa e velha audioconferência por telefone;
- A transmissão ao vivo desse áudio.
Advogados adotaram estratégias inusitadas para lidar com o novidade. Alguns mantiveram rituais como debater de pé, usando terno e gravata, mesmo falando de casa. Outro fez questão de aparecer em roupas informais e de capuz no desenho exibido no tradicional SCOTUSblog.
Por enquanto, a corte está mantendo esse esquema. Mas o formato prejudicou o debate, em que muitas vezes um juiz pode interromper o advogado ou um colega. É provável que a sessão volte a ser presencial assim que possível — os juizes, aliás, já começaram a ser vacinados.
Mas vai ser difícil arrumar uma justificativa para não continuar com as transmissões ao vivo, que se tornariam, assim, um belo legado da pandemia para a transparência do sistema judiciário americano.
Mais:
- O blog do desenhista que, desde 1976, reproduz o que acontece em tribunais, “onde câmeras não pode ir”. Ele também precisou se adaptar.
- Wall Street Journal: Supreme Court Case During the Pandemic? Landline Essential, Business Suit Optional
- Um podcast genial a partir do acervo histórico de áudios da Suprema Corte.