Com seus vinte e poucos anos, Jon Krakauer só pensava em escalar montanhas e trabalhava como marceneiro para pagar as contas.
Um amigo que tinha lido um texto seu na faculdade o convenceu a começar a escrever para viver, e o resto é história. Aos 67 anos, Krakauer é um dos mais respeitados autores de não-ficção americanos, e escreveu x bestsellers.
Há 25 anos, ele publicava “Na Natureza Selvagem”, sobre Chris McCandless, um jovem de classe alta americana que passou dois anos perambulando pelos Estados Unidos, vivendo a vida que queria, planejando sua “grande aventura” no Alaska, onde morreria 4 meses depois de tentar viver da natureza. Tinha 23 anos.
Nessa entrevista, ele conta incríveis bastidores do livro. O que mais chamou minha atenção:
- Ele não foi o primeiro escolhido pelo editor da revista Outside para escrever a matéria que seria o embrião do livro. Só recebeu a pauta depois que outro jornalista, mais tarimbado à época, declinou.
- Quando já estava apurando, soube que o outro resolveu, afinal, escrever a matéria, só que para a New Yorker. Sentindo a pressão, Krakauer correu, apurou o que pode em 3 semanas e entregou o texto, publicando 2 meses antes do concorrente mais famoso. Pense o remorso desse aí hoje… Dica: aceite a pauta!
- Jon não se considera um autor excepcional, e sim um bom “auto-editor”. O que o salva da mediocridade, diz ele: TOC, transtorno obsessivo compulsivo, que o faz reescrever tudo dezenas de vezes. Pois é.
- Sobre apuração:
“Aprendi, como jornalista investigativo, que você ouve uma história, você acha que já está totalmente batida… [Mas] todo mundo para em algum momento, não importa o quão diligente for. E se você tiver disposição para ir mais fundo, cavar mais 6 polegadas para baixo, você vai achar, normalmente — talvez sempre — uma riqueza de coisas.”
O livro e o filme, também belíssimo, embalaram minha virada de ano. “McCandless adentrou a natureza não para, em primeiro lugar, pensar sobre a natureza ou o mundo, mas para explorar o território interior de sua alma”, descreve Krakauer.
A força de sua narrativa, aliás, vem muito de sua perspectiva pessoal peculiar — como McCandless, o jovem Krakauer tinha uma relação conflituosa com o pai e, como McCandless, se jogou algumas vezes em aventuras inconsequentes, das quais saiu vivo por um capricho da sorte. Muitos acharam McCandless um lunático irresponsável. Krakauer se identificou, e até colocou muito de sua história no livro. Deu certo.

PS: Em julho do ano passado, o “ônibus mágico” em que McCandless se abrigou e pereceu foi removido pelas autoridades do Alaska. Aventureiros que tentavam seguir os passos do jovem frequentemente tinham que ser resgatados. Dois morreram.
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