Bom dia!
Muitos novos assinantes esta semana. Sejam bem-vindos, sejam bem-vindas. Já conferiram as edições anteriores? Tem muita coisa bacana.
Lembrete: adoro receber comentários, sugestões e críticas. Basta responder a esse e-mail.
E faltam quatro “Dicas” para o fim do ano! Então vamos logo ao que vi de mais interessante na semana.
Boa leitura!
1. O vírus da mentira
“A terra é quadrada”, diz fulano.
Brincadeira à parte, às vezes é assim que nos sentimos ao ler manchetes com base em declarações simplesmente falsas. Mas o que fazer quando ao autor da falsidade é uma alta autoridade da República? Um procurador? O presidente? É a questão que Derek Thompson coloca na Atlantic, em relação às mentiras em série disparadas por Trump.
- Exemplo eloquente: em entrevista ao Axios, o presidente americano disse que acabaria, por decreto, com o direito de cidadania a filhos de imigrantes nascidos nos EUA porque “somos o único país do mundo em que uma pessoa entra, tem um bebê, e o bebê é essencialmente um cidadão”. “Exclusivo: Trump acabará com cidadania por direito de nascença”, anunciou o Axios.
- Problema: o direito está previsto na Constituição. E mais de duas dúzias de países do hemisfério ocidental adotam regra idêntica, Brasil inclusive (CF 88, art. 12). O texto de Derek traz inúmeros outros exemplos em que a mídia candidamente difundiu as inverdades de Trump.
- Jonathan Swan, o repórter que fez a pergunta, em entrevista a Maggie Haberman, a principal repórter do NY Times na Casa Branca: “A nossa manchete era uma droga. Nós deveríamos ter deixado muito claro na manchete que isso era legalmente muito, muito duvidoso, e deveríamos ter — e acrescentamos depois — uma correção ao comentário de Trump de que os EUA são o único país a fazê-lo”. Ele também rebate teorias de que teria combinado a pergunta com o governo para inflamar as eleições parlamentares. Vale a pena ouvir (ou ler a transcrição) da conversa entre dois dos maiores craques da cobertura política americana.
- Pois é. Num tempo em que a maior parte das pessoas só lê títulos (ainda mais nas redes sociais), “a linguagem conspiratória de Trump é um vírus odioso que encontrou uma variedade de hospedeiros no ecossistema de mídia americano”, diz a Atlantic. Como na biologia, o vírus não está apenas se espalhando, mas destruindo os organismos infectados.
- Há solução? Obviamente, não é simples. Mesmo com esforços de checagem e maior cuidado editorial no tratamento das declarações, “mentiras vão sair”, admite o jornalista. “A revolução das comunicações na tecnologia criou um conjunto de distribuidores de informação — Facebook, Twitter, WhatsApp — onde afirmações exageradas sensacionais e emocionais viajam mais longe e mais amplamente do que a apuração honesta e a checagem de fatos diligente”. Isso é um fato, e vale perfeitamente para a nossa realidade.
- PS: na brincadeira, poderíamos acrescentar “Beltrano alega que é azul”. Mas essa é outra discussão…
2. A China manda notícias
Esse foi sem dúvida o ano em que mais li sobre o que está acontecendo na China. E olha, é uma enormidade.
- Essa matéria da Paula Soprana, na Folha, dá um excelente panorama de onde as coisas estão e para onde vão. “Se por décadas a China foi reconhecida pela mão de obra simples para produtos consumidos no Ocidente, hoje quer ser protagonista em áreas como inteligência artificial, biotecnologia, computação quântica e exploração espacial.” Vale a pena.
- Curiosidade: o voo da repórter para Xangai fez um pouso de emergência na Sibéria, onde ela passou 3 dias sem passaporte. O relato da aventura está nesta matéria. Aliás, a viagem foi a convite da StartSe.
Para se aprofundar, imperdível o enorme especial do New York Times sobre a ascensão do país.
- “Os líderes comunistas da China desafiaram as expectativas repetidas vezes. Abraçaram o capitalismo enquanto continuavam a se chamar de marxistas. Usaram a repressão para manter o poder, mas sem sufocar o empreendedorismo ou a inovação. Cercados por inimigos e rivais, evitaram guerras, com uma breve exceção, ao mesmo tempo em que alimentavam o sentimento nacionalista em casa. E presidiram por mais de 40 anos de crescimento ininterrupto, muitas vezes com políticas não ortodoxas que os livros didáticos diziam iriam falhar.” São seis partes, para ler com calma.
- O Meio tratou da matéria do NYT em sua edição de sábado (só para assinantes Premium). “Em 1994, quando Fernando Henrique chegava à presidência, o PIB brasileiro era de US$ 850 bilhões e, o chinês, US$ 863 bilhões. Crescemos muito, desde então. De acordo com o Banco Mundial, fechamos 2017 com US$ 2 trilhões de PIB. A China, com US$ 12,2 trilhões (gráfico). As economias dos dois países descolaram em 1996 para nunca mais se encontrarem. Mudaram de liga.”
Quer mais? Aqui está um texto muito bom da Wired sobre a “guerra fria” entre China e EUA em inteligência artificial, assinado por Nick Thompson, editor-chefe da revista, e Ian Bremmer, cientista político e presidente da Eurasia.
- Para pensar: “Mais do que qualquer outro país, a China mostrou que, com alguns ajustes, a autocracia é bem compatível com a era da internet.”
3. O que Friends vs. Netflix diz sobre a mídia
Na segunda-feira, a internet foi inundada por rumores de que “Friends” sairia do catálogo da Netflix, para desespero dos fãs. Horas depois, a empresa de streaming viria a público tranquilizar a turma com um festival de interações engraçadinhas nas redes.
- Como relata o New York Times, Netflix e Warner, dona da série, vinham negociando há meses. No fim, a Netflix pagou US$ 100 milhões para manter os 236 episódios de Friends em 2019 — mais de 3 vezes o valor do ano anterior, segundo fontes ouvidas pelo jornal.
- Matthew Ball, ex-executivo da Amazon com acurado senso para analisar a indústria do entretenimento, escreveu essa interessantíssima thread no Twitter. “Estou chocado, mas não surpreso, com a decisão. A AT&T [nova dona da Warner] poderia (e deveria) ter simplesmente transferido Friends para a HBO, seu principal ativo em streaming [no Brasil, o HBO Go]. Imagine o impacto na aquisição de clientes – de repente, a cobertura da imprensa inunda todos os fãs da série para assinar a HBO. Ou poderia ter mantido os direitos em espera por 9 a 11 meses até que o tão falado novo serviço de streaming da Warner fosse lançado. Haveria um ano de demanda reprimida, uma explosão de publicidade gratuita e uma forte razão para os fãs assinarem. Em vez disso, aceitou o cheque (sem dúvida enorme) para manter a série no Netflix, seu maior concorrente.” Vale ler a coisa toda.

E corre lá na Netflix para começar a maratona.
4. O que há com o sal rosa?
Não tem como evitar: na cozinha daquele amigo gourmet , no bistrô moderninho, no boteco da esquina, lá está o moedor com pedrinhas rosas de “sal do Himalaia”. É o assunto de mais essa ótima matéria na Atlantic (“Como o sal rosa dominou a cozinha dos millenials“).
- “Ah, mas é mais saudável!” Será? Não há, de fato, nenhuma evidência a sustentar a afirmação. “A popularidade do sal [rosa] provavelmente não seria possível sem o contexto de preocupações crescentes sobre a alimentação industrializada. Millennials americanos, criados com os alimentos processados dos anos 80 e 90, querem saber o que estão comendo”.
- “Essa história de sal rosa saindo das montanhas e sendo extraído desses antigos leitos marinhos é romântica”, afirma ninguém menos que um executivo do maior importador de sal dos EUA.
- Aliás, soube pela matéria que a maior parte do sal vendido como “do Himalaia” vem de uma mina no Paquistão que fica, na verdade, ao sul da famosa cordilheira. Um chef ouvido pela revista se pergunta: a reação das pessoas seria a mesma se fosse chamado de “sal do Paquistão”? 🤔
Leitura para as férias, recomendação de um leitor destas “Dicas”: “Salt“, de Mark Kurlansky. “A única pedra que comemos, o sal moldou a civilização desde o início, e sua história é uma parte brilhante e muitas vezes surpreendente da história da humanidade”.
5. As suas músicas de 2018
Há dias Helena me provoca: no começo desse ano, uma música foi, durante semanas, “a nossa preferida”. Mas não me contava qual, a danada. Fui salvo pelo Spotify, que apresentou ontem a todos as nossas “mais tocadas” em 2018. Era a primeira da minha lista: “Ex’s & Oh’s“, de Elle King.
- A campanha “Spotify Wrapped” é mais uma demonstração de como eles trabalham bem a montanha de dados sobre os hábitos de seus usuários para gerar mais engajamento. Qual música você mais ouviu em 2018? Qual gênero? E a música mais antiga? Tudo isso sobre você aparece nesse site especial, prontinho para ser compartilhado em todas as redes. O meu tá aqui Me julguem!
- É certo que a lista das suas mais ouvidas se parecerá com aquela playlist que já não sai dos seus ouvidos mesmo. Então a turma do Spotify sugere que você “comece 2019 expandindo seus horizontes” com a playlist “Lado B“, que traz “músicas e artistas diferentes do que você escuta normalmente”. Vamos dar uma chance!
- Se quiser ouvir as minhas Top 100, estão aqui. E na sua lista, o que apareceu? Compartilha!
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