Bom dia!
É feriado, eu sei, mas sexta é dia de Dicas, certo? Então aqui vai o que vi de mais interessante esta semana.
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1. O pior emprego em PR
Durante muito tempo, assim era conhecido o cargo do responsável por relações públicas da Ryanair, a “lowcost” irlandesa. Por sua atitude controversa (para dizer o mínimo), a empresa vivia envolvida em escândalos. Nos últimos anos, a empresa apostou em profissionalização do PR, incluindo uma tardia presença nas redes sociais. É nesse contexto que surge sua mais recente crise, um curioso caso que traz aprendizados a qualquer um que trabalhe na área.
- A foto acima apareceu nas redes sociais em outubro. Presa no aeroporto de Málaga por conta de uma tempestade, a tripulação teria sido obrigada a dormir no chão. A imagem rapidamente correu as redes sociais. Seria mais uma prova do tratamento desumano da empresa com seus funcionários. Será?
- Dias depois, a empresa divulgou um vídeo demonstrando que a foto era uma encenação. As câmeras de segurança mostram os funcionários deitando para a foto, e depois levantando. Os seis foram demitidos. Em tese, uma crise resolvida “by the book”: apure o que aconteceu, esclareça o caso publicamente assim que tiver todas as informações. Certo? Bem…
- Os sindicatos não se contentaram. Dizem que a foto era uma forma de “protesto” e que, ainda que não tenha dormido no chão, a tripulação ficou presa no aeroporto em péssimas condições. A empresa nega. Na rede social, muita gente tomou o lado dos funcionários.
- Não é um caso fácil. “Protestar” com uma foto enganosa não parece a conduta mais correta. Mas a empresa precisa ter clareza sobre seus “telhados de vidro” antes de adotar uma estratégia agressiva em público.
- O que diria o polêmico CEO da Ryanair, Michael O’Leary? Um PR inglês resgatou recentemente uma declaração sua de 2010, ao desmentir seu então diretor de comunicação: “O Stephen é só um ‘PR’. Ele vai mentir para você. Eu lhe direi a verdade”. 🤔
2. O estado das coisas no jornalismo americano
A.G. Sulzberger tem 38 anos. Desde janeiro de 2018, é o “publisher” do New York Times. Passou por várias funções na redação até assumir o comando do jornal de sua família. Nessa longa entrevista a Kara Swisher, A.G. comenta o momento atual do NYT, permanentemente criticado pelo presidente Trump, e do jornalismo em geral.
- A.G. rejeita a ideia de uma imprensa “de oposição”. “É fácil ser tragado por ciclos, mas a confiança é um jogo de longo prazo. Nossa missão — buscar a verdade, cobrar os poderosos, ajudar as pessoas a entender o mundo — isso é perfeito para este momento, mas é também perfeito para qualquer momento.”
- Sobre opinião no jornalismo, ele usa um exemplo: “Publicamos uma matéria, resultado de uma investigação de 18 meses, com três repórteres ‘full time’ e dois editores durões, sobre as finanças do presidente Trump. Ela não estava cheia de ‘por um lado, e por outro lado’. Usamos a palavra “fraude” — e conte o número de organizações de imprensa com um bom advogado que usa a palavra ‘fraude’ antes das autoridades. Esse um exemplo de que é possível chegar a uma conclusão.” Mas isso é diferente de ter uma “opinião” sobre Trump, discorre A.G. Faz todo sentido.
- Ele comenta ainda a relação com Google e Facebook, “os mais poderosos monopólios de informação na história do mundo”. Para qualquer um que se interessa por jornalismo, áudio e transcrição completa da entrevista.
Ainda nesse tema, me chamou a atenção uma fala do Mike Allen, um dos principais repórteres de política dos EUA, que dirige o Axios. Ele comentava a crítica de Hunter S. Thompson, criador do chamado jornalismo gonzo, ao “jornalismo objetivo”. Para Hunter, não era possível ser “objetivo” sobre determinados temas, em especial na política.
- Mike: “Hunter foi um pioneiro na compreensão de que as pessoas querem vida e vozes reais — não pronunciamentos empolados que costumavam dominar o jornalismo. Jornalismo objetivo, se for definido como ‘dois-ladismo’, não presta serviço ao público. Mas se jornalismo objetivo é definido como iluminar a realidade de uma situação, sem injetar opinião pessoal, essa é uma abordagem digna pela qual o público vai lhe agradecer. As pessoas querem que você adicione dois e dois e chegue a quatro – isso é parte do modo como o jornalismo mudou no tempo em que estou nesse jogo. A tendência costumava ser mais para expor os fatos e obrigar o público a fazer o trabalho. E aí as pessoas acabam frequentemente pegando dois e dois e chegando a 5 ou 10 ou 20.”
- Se quiser conhecer mais sobre o Axios, vale a pena ler todo o Q&A que Allen e seu sócio fizeram no Reddit.
3. Um banco nas redes sociais
Marcelo Salgado, gerente de mídias sociais do Bradesco, entrou no banco há 18 anos. Era atendente do call center, onde trabalhou por algum tempo. Esse contato direto com o cliente ainda marca muito do que ele faz hoje no comando da operação digital do banco.
- Nessa longa e interessante entrevista ao podcast Código Aberto, Marcelo detalha o trabalho de redes do banco e os desafios de falar por uma marca tão tradicional. Relembra cases famosos, como essa emocionante festa de aniversário no Crato (assista).
- Marcelo se aprofunda na relação com chamados influenciadores, que sua equipe prefere tratar como “criadores de conteúdo”. Faz sentido: na prática, todo mundo é “influenciador”, e o termo pode confundir a elaboração de estratégias.
- Sobre as diferenças para se comunicar com “millenials”: “embora a forma possa ser mais ousada, a linguagem possa ousar um pouco mais, no fundo se resume a conversar a conversa das pessoas de maneira natural”.
- Vale a pena ouvir a entrevista toda.
4. Podcasts de Brasil-sil-sil
A pedido de uma leitora fiel, pretendia compartilhar com vocês minhas recomendações de podcasts. Mas eis que essa mesma leitora compartilhou comigo um texto em que Mauro Segura, diretor de marketing da IBM, fala sobre os seus podcasts preferidos, e um mundo novo se abriu: os podcasts brasileiros.
- Resolvi deixar de lado por um tempo meus podcasts estrangeiros preferidos e me dedicar a explorar os nacionais. Quanta coisa interessante! O Código Aberto, citado acima, já foi uma grata surpresa. É produzido pela turma da B9, também responsável pelo Mamilos, possivelmente um dos mais famosos da “podosfera” brasileira.
- Então ficamos assim: vou me dedicar aos podcasts nacionais e voltarei, finalmente, com as minhas recomendações.
- E você, está ouvindo algum podcast interessante? Conta pra mim! 😃
5.🎥🎧 A volta de Mary Poppins
“Papai! Tia Jane! Eu estava empinando uma pipa no parque e ela prendeu numa babá!”. Quem disse isso? Georgie Banks, filho de Michael Banks, em “Mary Poppins Returns”, que estreia em 19 de dezembro. Para quem teve a infância marcada pelo Poppins original, como eu, é emocionante! O trecho está em um dos muitos teasers do filme disponíveis no YouTube. Por que se tem algo que a Disney faz com maestria é trabalhar a expectativa em torno de seus filmes.
- Essa semana chegou mais um “sneak peek” e um “featurette“, um daqueles videozinhos em que elenco e equipe dão entrevistas. “Esse é um filme de grande esperança e espetáculo, e é emocionante, então acho que é filme muito importante para ser feito nesse momento”, diz Emily Blunt, que faz agora o personagem vivido por Julie Andrews no original.
- Emily, aliás, está ótima na entrevista que deu a Jimmy Kimmel esta semana (vídeos aqui e aqui). Para quem quiser enfiar o pé na jaca, já está à venda nos EUA a Barbie da nova Mary Poppins.
Não tem ideia do que estou falando? Então pare tudo e assista o filme antigo (de preferência com as crianças). Está disponível no iTunes e no NET Now. Tem também o filme em quem Tom Hanks vive Walt Disney na época em que convenceu a autora dos livros de Mary Poppins a ceder os direitos para o filme. E anime seu feriado com a belíssima trilha sonora original, na voz de Julie Andrews e Dick Van Dyke.
É isso por hoje. Uma boa sexta-feira a todos. E até a semana que vem!
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